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A CIDADE E A MEMÓRIA


A cidade é um território gratuito de deriva. Oferece-se a população para ser desvendada e desbravada. Suas construções, ruas, avenidas, praças e jardins são possibilidades de reflexões, há nelas uma humanidade poucas vezes obvervada. É possível extrair do meio urbano uma identificação com a condição humana, através da passagem do tempo e da nostalgia, comuns a ambas. Nostalgia é um sentimento recorrente quando nos deparamos com elementos que despertam do nosso inconsciente memórias passadas. Os edifícios antigos das cidades transportam o expectador para um devaneio poético, eles convidam à contemplação, para que cada pessoa acesse suas lembranças e delas construa ressignficações para os elementos urbanos que se oferecem gratuitamente.
 

O trajeto proposto pelas imagens é de vivenciar essa memória urbana, acessando assim a própria memoria pessoal, daquele que se faz flâneur. É se entregar aos caminhos não percorridos, deixando o olhar conduzir a entrega. “Todo oceano é feito de esperança para o corpo que se fez navio”1 . Esperanças a serem construídas individualmente neste ambiente coletivo. É ver nestes locais reflexos das moradas internas. O trabalho que busca a sutileza dos detalhes, aqueles que eternizam as lembranças. As imagens remetem a ilustrações de um passado lúdico.


A gravura possui uma poética com a questão da memória. A incisão sobre a placa deixa seu rastro, seu registro. E da mesma forma como a memória incosciente pode ser acessada através de sutilezas, as marcas deixadas na matriz se revelam no momento da sua impressão. A passagem do tempo é clara no metal, suas corrosões são processos paralelos ao desgaste natural da paisagem urbana, e também ao desgaste do próprio ser, que se encurva diante do tempo. O processo é lento e doloroso, pois também nos remete ao sentimento de perda e transitoriedade do ser. Podemos reviver a memória em nossa mente, mas ela nunca se repetirá. Panta rei2.


Mariana Laterza, 2013

Gravuas em Metal

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